Relata a Bíblia que Jó era o homem mais rico do oriente. Ele morava em
Uz, atual Arábia. Era proprietário de muito gado, muitos servos, enorme riqueza
e uma grande família abençoada. O próprio Deus testemunhou a favor de Jó,
dizendo que ele era um homem “íntegro e reto, temente a Deus e que se desvia do
mal” (Jó 1:8). Deus confiava em Jó e este tinha Deus como seu Senhor absoluto.
Já comentamos em outro artigo (ver Jó: desafio de Satanás) sobre a ousadia
de Satanás para usar Jó. Satanás acusa Deus de o “comprar”, dando-lhe bênçãos.
Satanás esqueceu-se de que um dia já foi abençoado por Deus e, quando se
desviou, Deus o colocou à própria sorte na terra, formulando um plano para
provar a toda corte celestial a sua maldade. Infelizmente a sua maldade
envolveu o homem e este vem sofrendo suas conseqüências até hoje.
Com a audácia de Satanás, Deus lhe permitiu que tirasse tudo de Jó,
inclusive seus filhos e até sua saúde, mas impôs que não lhe tomasse a vida.
Deus conhecia e confiava em Jó, sabia até onde ele poderia suportar sua dor,
assim como Deus nos conhece e sabe o nosso limite. Muitos de nós passamos por
provações e logo queremos abandonar nossa igreja, nos colocamos no fundo do
poço, quando estamos a apenas um metro abaixo. Deus nos revela em Sua Palavra,
que não seremos provados acima das nossas próprias forças (1 Co 10:13). E assim
fez com Jó.
Jó teve paciência e esse é o jargão dado nos dias de hoje, para
caracterizar uma pessoa que não se abala com dificuldades e provações da sua
vida, mas esquecem-se de que o ato de ser paciente é muito mais profundo do que
suas vãs filosofias podem imaginar (parafraseando William Shakespeare), pois a paciência é considerada um dos
frutos do Espírito Santo (Gl 5:22). Portanto, paciência vem de Deus e está
ligada com a compreensão e perseverança na fé. Significa acreditar na Palavra
de Deus e perseverar no seu caminho, pois, no momento certo será recompensado
com coisas boas. E Jó, fiel servo de Deus, tinha essa paciência como uma Graça
de Deus na sua vida.
O tempo foi passando e o sofrimento de Jó se esticava. Satanás fazia
tudo para provocá-lo. Os dias iam se arrastando, sem alívio à vista e ao lado
dos seus próprios amigos a lhe atormentar a cabeça, expressando em voz alta sua
desconfiança de que fora ele mesmo quem trouxera aquela catástrofe sobre si, por
causa de algum pecado oculto. Jó começou a se agitar, a se irritar com seus
amigos e a falar como qualquer um, que em sua situação, sentia muita dor, mas
sem perder sua fé em Deus, embora isso até parecesse que ia acontecer.
Por todo esse tempo de aflição Jó alternava suas expressões de fé e de
raiva, veja o quadro abaixo:
ALTERNANCIAS DOS SENTIMENTOS DE JÓ
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FÉ
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RAIVA
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"Saí do ventre
da minha mãe, e nu partirei. O Senhor o deu, o Senhor o levou; louvado seja o
nome do Senhor" (1:21)
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" Pereça o dia
do meu nascimento e a noite em que se disse: 'nasceu um menino'" (3:3)
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"Pois eu ainda
teria o consolo, minha alegria em meio à dor implacável, de não ter negado as
palavras do Santo" (6:10)
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"Ensinem-me, e
eu me calarei; mostrem-me onde errei" (6:24)
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" Eu sei que o
meu Redentor vive, e que no fim se levantará sobre a terra. E depois que meu
corpo estiver destruído e sem carne, verei a Deus" (19:25-26)
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"Clamo a ti, ó
Deus, mas não me respondes; fico em pé, mas apenas olhas para mim. Contra mim
te voltas com dureza e me atacas com a força de tua mão" (30:20-21)
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Durante seu sofrimento Jó clama por respostas (13:3,15; 23:3-7; 31:35-37)
e em outras situações, Jó espera que possa ter alguém a intermediá-lo perante
Deus (9:33; 31:35; 33:23).
Jó passa por sete provas lideradas pelo inimigo e consegue superar todas
elas, vejam:
- Jó
perde os bois e as suas jumentas (1.14-15);
- Jó perde suas ovelhas (1.16);
- Jó perde seus camelos (1.17);
- Jó perde seus filhos (1.18-19);
- O inimigo tira a saúde de Jó. (2.3-8);
- O inimigo usa a mulher de Jó (2.9); e
- O inimigo usa os amigos de Jó (4- 38).
Cada uma dessas provas serve de exemplo e reflexão para cada um de nós,
em nossas tribulações, com a confiança de que Deus nos restaura, apesar das
provações, quando o temos como Senhorio absoluto das nossas vidas.
No final, após todos os discursos, quando finalmente Deus resolve
intervir e falar com Jó (38,39), imaginando este que Deus esclareceria tudo o
que lhe acontecera, Jó fica surpreso e se recolhe a sua humilde
insignificância, diante das perguntas de Deus (40:4), mesmo sem receber as
respostas que esperava.
Finalmente, Deus age e Jó experimenta novamente as bênçãos do Senhor na
sua vida “e então morreu, em idade muito avançada” (42:17).
Deus não disse que deixaríamos de sofrer seguindo seus caminhos, mas mesmo
com a Graça sobre nós, experimentaríamos a dor. A dor pode mudar a expressão da
fé, mas não termina com o seu conteúdo.
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